28.10.05

Noite de novo. Absoluta.
Não sou senhor de mim. Falo em voz alta, mas parece-me ser sempre a voz de alguém que eu não sou. É um sonho — aquele que, afinal, eu já sabia mas esquecera. Um sonho assim:
Algures, um grupo de viajantes canta e dança, ao redor de fogueiras acesas, numa noite de lua cheia. Dançam e cantam para enganar o desespero, a ansiedade da espera. Porque é facto que me esperam. Eu estou longe, ainda; não sei quem sou, ignoro qual o meu nome. O vento entra-me por entre os cabelos, o meu cavalo parece incansável. Amo esse vento, amo esse cavalo. Chego, finalmente, coberto de pó, exausto, mas cheio de um sorriso vivo, que nenhuma imagem em águas paradas poderia alguma vez decifrar. Excepto eu. Explico-me: descobri o caminho procurado, o caminho que faltava. As crianças rodeiam-me, os homens abraçam-me como a um seu igual, irmão. Toco as mulheres no rosto, beijo-as na testa... e alguma coisa de grávido fica, de súbito, a brilhar nos seus olhos brandos, enormes. As fogueiras crescem, envolvendo o luar: abrem rasgos no breu da noite, o céu fica ainda mais amplo... O que é que me falta? Nada. Nada parece ter fim, tudo sugere explicação. O vento dorme agora. O cavalo...

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