2.10.05

Estas as palavras de uma antiga voz:
“Andarás tempo infindo, sem nunca parar. A sede será a tua direcção, a fome o teu espírito, o céu o teu olhar, e o sol a tua provação. O teu corpo será de terra, mesmo antes de o ser, e nada saberás ao certo, nunca, nem de ti nem do mundo. O homem que viaja com a Serpente no seu íntimo é um ser perdido”.
E se assim for, realmente, como regressar? Haverá regresso possível? E regressar a quê?
Aconteceram mudanças em mim. Não é lícito pensar, pois, que também tudo o resto mudou? Mas penso também: se um objecto muda de lugar, poder-se-á dizer que uma mudança ocorreu, simultaneamente, nesse lugar? A mudança real, é por dentro ou por fora que acontece? Que coisas é que são sinais de outras? — como a estátua de um homem é um sinal do que esse homem é ou foi.
E ainda: a mudança é boa ou má? Ou melhor: como distinguir uma mudança boa de uma má? Qual o critério? Quem o define? Como?

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