29.11.05

Os homens antigos descobriram a bebida que dava a embriaguez dos sentidos, e o fumo que provocava a distorção da consciência. Os guerreiros experimentaram essa bebida e esse fumo, alguns deles indo da descoberta ao abuso, sem conhecerem prudência.
Alguns enlouqueceram, a ponto de começarem a clamar pelo sangue derramado de todos os seus semelhantes. Tiveram de morrer.
Outros ainda, continuaram a beber e a fumar, como se come e se dorme, mas com sobriedade, e disseram que era nessa parcimónia que residia a verdadeira liberdade. Os velhos lamentam-se quando não há comida, ou é demasiado o frio, ou são muitas as mortes entre os guerreiros jovens, e com eles fazem coro de aflitos as mulheres, e crescem de medo mudo os olhos grandes das crianças. Mas o guerreiro, porque é digno e consciente, só se lamenta quando não há liberdade. E quando não há liberdade, o guerreiro combate. Só na luta se conquista o que se é, e o que se quer. Sou guerreiro. Sei. Também eu já me embriaguei com a tal bebida, aspirei o tal fumo. Mas penso: cada coisa no seu lugar, cada acto ou experiência nos seus tempos próprios.