20.11.05

Comunicar... Diz-se, explica-se a imperfeição. Há gestos especiais; e palavras, quase tantas como as estrelas. Apesar disso, são ainda demasiados os erros contidos nos nossos actos de contacto e entendimento. A perfeição seria os próprios tocarem-se. A clareza, a luz. Não poder mentir, nem aos outros nem a nós... Mas como é que os espíritos se podem tocar? Cada vez são mais as coisas que os separam, menos consideradas as que os unem... Os meus semelhantes são cada vez mais diferentes de mim. Mas é uma diferença que não é boa, porque confunde a semelhança paralela, que é real, forte, e existe para lá de qualquer acaso. No entanto, quantos movimentos e palavras para exprimir a mais simples realidade, o mais ligeiro pensamento.
“Adeus”, por exemplo. Dizer adeus é tão complicado... Primeiro, pode julgar-se que basta apenas voltar costas. E é isso que se faz. Só que, depois, descobre-se que aquilo a que se virou costas deixou sinais em nós, marcas que não se deixam apagar — embora se vá já de frente, seja como for, para qualquer coisa nova. Partir é separar. Chegar é o derradeiro instante de uma despedida. Ou não: tudo, assim, se pode pensar. Tudo é evidente e inalcançável. E diz-se, talvez: “pois não é a própria natureza da vida que determina a nossa certeza da morte?”
Quanta dor na simplicidade.
Quanta alegria.

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