3.11.05

Ergo-me. Tudo é doloroso. Por onde andará a vida? Talvez eu nada esteja a fazer aqui. Toco-me:
Isto são as minhas entranhas. Não há nada nelas. Ou há: isto, que é o coração a bater.
E isto: é o ar — e eu respiro. Estou vivo.
Não faz sentido. Talvez nunca tenha feito.
“Ergue-te mais, guerreiro”, diz-me o meu peito de mim, apesar de mortalmente cansado.
E eu obedeço, para longe a morte: muito a custo embora, ergo-me, absolutamente. Que se faça o que o peito disse, digo: ele falou pela voz do guerreiro que me está no sangue, rio da minha vitalidade, veneno primeiríssimo contra o qual nenhum unguento alcança eficácia. (E, no entanto, na compreensão que atingi, as armas já não voam, já não falam, já não cantam... Que guerreiro sou, afinal?)
Uma nova força, que desconheço, reinstala-me na dança. Impossível? Já nada o é: porque poderosa é a carne que me sustenta, e mais poderoso ainda o espírito que a anima.

Sem comentários: