19.1.06

O que se passou com os outros? Para falar verdade, ignoro-o: um guerreiro não desvenda de bom grado o que lhe vai no íntimo, e sinais que o revelem, fá-los na areia, para que só os conhecedores os agarrem, ou o vento.
Houve os que, de facto, partiram um dia, de repente, sem dizerem porquê, nem para onde iam, como se estivessem apenas a responder a um longínquo mas irresistível apelo. Alguns não regressaram. E os que, mais favorecidos pelos desígnios do acaso ou pelo poder de si próprios, lograram achar com a vida o caminho de retorno, souberam preservar o seu silêncio. Como sempre. Nem então alguma coisa os distinguiu dos que tinham ficado, alheios àquela aventura: eram guerreiros, nada mais. No entanto, a meus olhos, parecia haver neles, agora, algo de diferente, de inefável. Uma espécie de luz perante o sol. Impossível não reparar nisso. Ou não?
Sonhos? Miragens? Esse apelo misterioso; terá sido também o que me aconteceu? Não sei. Lembro-me somente de que um dia, ao rever a história da minha vida já vivida, descobri que as perguntas eram ainda em número muito superior às respostas. Sofri fantasmas temíveis, mas a ninguém disse dessa dor fria e quente no coração da cabeça, porque me apercebi a tempo de que havia uma forma de a vencer que me pareceu bem mais simples e eficaz que qualquer desabafo. Assim, logo na noite seguinte, concretizei a minha decisão: coloquei sobre o cavalo as minhas armas e tudo o mais que me era necessário, bem pouca coisa, afinal, montei e parti.

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