18.12.05

O Sonho move os Puros, o Tempo enche-os de fantasmas, a Construção destrói-o.
Nos espíritos dos homens, pelos caminhos que eles percorrem, é aí que a Necessidade assenta os seus arraiais de luxo e miséria. A Necessidade fala-nos ao Coração: pura ainda quando exige o Ser, é já dolorosa ao dizer das Fomes. Assim se desvendam e crescem os fantasmas do Tempo, que tudo fazem vacilar e apodrecer: o espírito do homem amolece, pelo uso e pelo vício (mesmo que, pelas mesmas razões e sem contradição, endureça), e ao acaso, jogando forte, leva-o por vias em que os meios se confundem com os fins, e de tal modo que a boca, ao falar, não traduz o Coração.
A Necessidade é leviana, o luxo do Poder corrompe. Há belas casas que, nas traseiras, abrem para abismos. Ou, dito de outro modo: não há nada absolutamente bom, nada absolutamente mau, não há nada absolutamente. Não há nada, ainda.