11.10.05

Sinto uma sede que não cessa, uma fome que já nem sinto. Começo a caminhar. Os meus pés enterram-se na areia mole, a cada passada, e cada vez que avanço receio afundar-me totalmente neste chão sem cheiro, mas cheio de mistério.
Imagino uma nação oculta sob as areias, e uma infinidade de entradas para ela dissimuladas nos suaves vales entre as dunas. Imagino um homem a vir por aí fora, em viagem, e, de repente, é sugado para essa Nação Subterrânea. Cai num chão de pedra, num espaço completamente às escuras, e fica em expectativa, à espera de que o ataquem, pois é a isso que está habituado: atacar e ser atacado, matar ou morrer... Depois, lembra-se de que está desarmado. Quer dizer, tem o corpo, a vontade de viver. Retesa-se, banhado em suor, embora aqui, contrastando com a fornalha lá de cima, do ar livre, se faça sentir um frio de pedra, que lhe roça a pele e lhe atravessa os pensamentos. Pergunta ele: “quem há?” A sua voz ecoa. O negrume é total, infindo como o de um céu nocturno sem lua nem estrelas.
O homem assim aprisionado sou eu, e penso:
“Todas as saídas se fecharam. Estou num mundo secreto, e do qual não há fuga. Cheira a mortos”.
Não sei de onde me vem a certeza disto que penso, mas a verdade é que a tenho. Começa a faltar-me o ar.
Continuo a caminhar.

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